O DNA Mitocondrial e o papel das fêmeas
- João Holanda

- 28 de mar. de 2024
- 4 min de leitura
Em 23 de janeiro de 2016 10:39,
Flavio Scozzafave <flaviossvet@yahoo.com.br> escreveu:

Bom dia Taddei
Quando falávamos dos cavalos, da linhagem JO entrávamos no mérito da consanguinidade. Enquanto eu tomava aquela "surra" sobre os Junqueira rsrs, me ocorreu um grande aprendizado que eu tive quando criava galos combatentes.
O galo Nacional (nada mais é do que mistura de varias linhagens belicosas), um verdadeiro "vira-latas" descende do galo Malaio, de origem asiática com corpo compacto, musculoso, tarsos fortes e incrível fibra e resistência tanto ao castigo no combate quanto resistência muscular e aeróbica.
Bom, embora sempre procurasse boas linhagens para cruzamentos, as aves de sangue banquivóide ou bankiva (gallus bankiva) sempre me fascinaram devido à beleza e agressividade, são animais muito rápidos e feridores nas contendas, mas não servem pros padrões de combate realizados aqui (são animais leves e de estrutura frágil quando comparados aos nossos nacionais).
Pensei: "vou realizar uns cruzamentos com banquiva e aliar a resistência física e "fibra" do nacional com essa rapidez dos banquivas..." coitado de mim, achava simples!
Bom, linhagem nacional para servir de base eu tinha, mas faltava um estudo de qual banquivóide usar já que existem várias raças.
Pesquisei muito e decidi pelo Espanhol Jerezano ou somente Jerezano que apesar de ser um banquivóide eram usados em combates semelhantes aos nossos na Espanha. Outro problema: precisava encontrar no Brasil, quem tinha linha de jerezanos de combate já que muitos selecionavam os ornamentais e trazer de fora ficava difícil devido aos trâmites de fronteira.
Conheci então em Alagoas o Dr. Paulo José Moraes da Silva, dentista e medico professor da universidade federal, pessoa ímpar e solícita que me passou então um galo Jerezano com crista de rosa e plumagem pedrês, era lindo o galinho, pesava 1,250kg.
Comecei então os cruzamentos, selecionei 4 de minhas melhores matrizes e tirei vários exemplares, mas sabia que poderia usar em combate somente após terem somente 25% de sangue banquiva, pois antes disso não atingiam o tamanho e peso praticados. Destes 1/2 sangue, selecionei 2 machos e 2 fêmeas somente, os outros (quase 70) foram descartados. Haja polenta e quiabo rsrs.
Fui então recruzando (com endogamia) e comecei a perceber que quando usava o macho 1/2 , os filhos eram menores porém de fenótipo mais puxado ao nacional e já quando usava as fêmeas 1/2 sangue os indivíduos eram mais esguios e magros chegando a ser frágeis. Bom, até aí era tentar melhorar com mais cruzamentos, mas... aí é q veio o melhor de tudo. Para continuar a seleção e os cruzamentos precisava levar os bichos à liça, inclusive eu fazia escorvas até com as fêmeas e anotava a evolução conforme o tempo que estavam no "trato". Olhe que interessante: no frangos 1/4 de banquiva filhos das galinhas 1/2 (fêmeas F1) comecei a notar que não desenvolviam a resistência aeróbica e por mais que estavam manejados, em 15 minutos de "batida" estavam de bico aberto e asas caídas, exaustos. Já com os filhos do macho F1 isso não acontecia, pois em 60 dias de preparação pelejavam 50 minutos sem dificuldade.
Eu, na minha ignorância e tentando procurar a causa disso pensava “é o mesmo cruzamento, a base é solida, os F1 tanto machos, quanto fêmeas são irmãos, onde estou errando”????
Um dia, lendo um boletim aviário muito antigo escrito pelo Prof. João Brunini, ele citava a transmissão de caracteres que ocasionavam a postura de ovos azuis, resumindo ele dizia que só frangas filhas de galinhas que botavam azuis poderiam apresentar o mesmo. O macho não transmitia, mesmo que este tivesse nascido de um ovo azul. Tinha algo ligado ao sexo, mais precisamente dentro da célula da fêmea, mas não no núcleo celular e sim na mitocondria que é uma organela responsável pela produção de energia e que também possui uma fita de DNA.
Estudei e conversei com vários professores e pesquisadores da área, não só por conta dos galos, mas porque aquilo me intrigava e aprendi que a parte da informação genética responsável pelo recrutamento de fibras musculares estava contida no DNA mitocondrial e somente a fêmea poderia passar à prole devido ao pareamento dos genes.
Meus bichos, filhos das fêmeas F1 não desenvolviam "pulmão" e não aguentavam muito tempo no combate porque tinham fibras musculares rápidas, explosivas, mas sem resistência, característica presente nos banquivóides.
Será que nos canários existe algo do que procuramos no DNA mitocondrial e que só as fêmeas podem transmitir ??? E se for a famigerada "fibra" ou o instinto de território o que os torna agressivos diante da presença de outro CT??
Nos bovinos Nelore, de elite, são usados marcadores moleculares que registram a presença de determinado gene desejável e "mostram" ao pesquisador a identidade fenotípica através da leitura do genótipo, confuso isso, parece obra de ficção rsrs.
Taddei, você corretamente sempre deu muita importância às fêmeas e talvez esteja no DNA mitocondrial a "coisa" que você viu na prática. Veja o exemplo recente da sua canária ESPINHA; você a cruzou com canários de linhas diferentes e o aproveitamento foi ótimo não? Claro que em determinado cruzamento houve mais proveito, é natural que haja certo "sinergismo", pois alguns cruzamentos parecem que geram uma prole perfeita para o que procuramos. Já pensou na natureza, em estado selvagem o quanto é difícil e implacável o processo de seleção? Da próxima vez que nos depararmos com um Ct caçado finalizando uma roda com 230, 250 cantos, vamos atrás não dele, mas da mãe e da irmã dele, combinado??? Kkkkkk.
Quando dizem "...este Ct é filho do fulano" logo me vem na mente, quem seria sua mãe, todo mundo negligencia nesse ponto e muitas vezes nem sabem quem é a dita cuja (graças a Deus isso está mudando nos Cts, nos bicudos já é diferente). O macho não é mero coadjuvante mas que as fêmeas guardam algo fantástico é inegável.
Abraços
Flávio Scozzafave - Veterinário
Brodowski-SP
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